Bell Mesk: Uma vida dedicada a discotecagem
Bell Mesk é DJ e produtor musical. Começou cedo na profissão e até hoje defende a categoria de DJ com muita dedicação. Passou por vários estilos, como Jungle, Drum n Bass, Deep house e hoje é o cara que gerencia o trabalho dos DJs no grande restaurante Dudu Bar. Com muita história para contar, hoje temos esse bate papo com ele.
TUNTISTUN: Oi Bell Mesk, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você. Você é um parceiro de muitos anos, muitas festas e alegrias, vamos falar um pouco disso hoje?
BELL MESK: Olá Gui, tudo na paz graças a Deus! Longos anos de amizade, muitas festas e muitas experiências com certeza.
TUNTISTUN: Fala um pouco do início de tudo, me conta um pouco de você, onde nasceu e tal, conta pra gente como foi sua infância e juventude?
Vamos lá! Nasci se não me engano no hospital Santa Lúcia na Asa Sul, morei até os 3 anos de idade em Planaltina e depois mudamos para Ceilândia. Minha infância foi sempre muito ligada em tecnologia, vídeo games e depois computadores.
TUNTISTUN: O que você escutava antes de escutar música eletrônica?
Na minha casa meus tios e tias ouviam de tudo um pouco, e como nasci no início dos anos 80, tive o prazer de quando criança, ouvir disco dos anos 70, rock nacional e internacional e algumas coisas mais voltadas para black music.
TUNTISTUN: Quando descobriu a música eletrônica?
No início dos anos 90, quando comecei a mexer com discotecagem, tínhamos pouco conhecimento exato do que seria “música eletrônica” como vemos nos dias atuais, mas do meio da década de 90 pra frente o contato e o conhecimento veio com mais informações, e foi em uma dessas informações, fornecidas pelo grande Elyvio Blower, que conheci o Jungle, mas antes disso já tinha o contato com os sons que chamávamos de Underground, porque nos anos 90, o que não era Euro Dance era Underground, e nessas tocava e ouvia muito Garage, mesmo ainda não sabendo diferenciar as vertentes eletrônicas. Mais para o final dos anos 90, quando nos conhecemos, que eu tive mais contato e conhecimento da cena eletrônica que existia em Brasília, entende-se Brasília como Plano Piloto, porque na área de Ceilândia e Taguatinga era bem mais limitado, a cultura musical seguia por um caminho mais Pop.
TUNTISTUN: Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?
Rapaz, teve o Park Dancing no Park Shopping em 1997 se não me engano, que foi um evento realmente voltado para questão de música eletrônica. Acredito que as festas menores no final dos anos 90 foram as que mais me abriram os olhos. Lembro também da loja de discos na Asa Norte, Sounds, que foi uma grande influenciadora na minha visão sobre música eletrônica, inclusive deixar um salve para o grande Claudio K, que foi um cara que sempre ajudava muito. DJs da época que foram importantes para meu conhecimento, posso citar o Claudio Lopes, o Theo Andrade que na época eu conheci como Telmar que foi pra mim um grande professor também e me ajudou muito no aprendizado, o Elyvio Blower e seu Top Dance que era uma referência pra comprar as músicas, tem o Romar que era residente da London London e que se tornou um grande amigo até os dias atuais, o professor Chokolaty não tenho como não citar como referência ainda mais pelo fato das performances nos toca discos.
TUNTISTUN: E logo que você gostou da música decidiu ser Dj? Como foi esse caminho?
Conheci a música eletrônica anos depois de ter começado a mexer com discotecagem, me interessei pela cultura DJ em festas que aconteciam no salão comunitário do Setor O em Ceilândia. Vendo os DJs trocarem de música sem parar o som, fiquei fascinado e quis aprender. Fui indicado a ir ao CONIC, e conheci a DM Records, que ministrava curso para DJ. Depois de sair do curso comecei a conhecer a galera que fazia os bailes e festas na Ceilândia e daí por diante o conhecimento foi aflorando. Primeiro Club que toquei foi a Boate Opera, antiga London London, em Taguatinga, por volta de 1996.
TUNTISTUN: No começo da sua carreira quais foram as músicas que fizeram sua cabeça? Coloca 5 aqui pra gente?
Vou tentar colocar 5 principais voltadas para a música eletrônica na época.
The Bucketheads – The Bomb!
2 In A Room – El Trago
2 Bad Mice – Bombscare
Goldie – Inner City Life
The Ganja Kru – Super Sharp Shooter
TUNTISTUN: Você fez uma transição sonora, foi do Drum n Bass ao Deep House, como foi essa transição?
Então, sai do 4×4 para o Drum n Bass no final dos anos 90, mais ou menos 98.
Fiquei o ano de 1999 só indo para as festas, como estava servindo a Marinha do Brasil, não dava para tocar, mas nada me impedia de estar nas festas. Após sair da Marinha, início de 2000, comecei a comprar os discos, lembro de uma festa na Casa do Teatro Amador, festa linda inclusive, onde conheci o Linkage, troquei meia dúzia de palavras com ele, até porque ele estava tocando, a pista era no banheiro se não me engano rsrs, ele deu uma fita cassete mixada dele, ela existe ainda, só não sei onde está. Então dos 2000 até 2004 me dediquei inteiramente ao Drum n Bass, mas vendo os caminhos que estavam a frente, e já imaginando a falta de festas para tocar o estilo, decidi começar a tocar o Deep House, o verdadeiro. O que foi uma grande surpresa para a maioria, porque eu tocava um som muito pesado e fui para um som extremamente fino e sofisticado, som esse que foi influenciado por você senhor Oblongui, como eu sempre chegava cedo nas festas, até porque eu não tinha carro e ia praticamente sempre de ônibus, sempre me virava pra poder ir para as festas, eu muitas vezes via você abrindo com um som muito bom aos meus ouvidos, outro que também tocava coisas do gênero era o Lango, que hoje mora fora do Brasil, vocês me influenciaram bastante, ainda mais pelos discos da Naked Music que tocavam, principalmente o meu primeiro amor, Blue Six – Music and Wine. Então de certa forma minha transição para o Deep foi algo que seria natural pelo meu amadurecimento. E como eu sempre gostei de Disco, migrar para o Deep House, Soulful House, Jackin House, Nu Disco e etc, seria algo inevitável. E o interessante foi que, minha primeira gig tocando sons voltado para Deep, foi no Deep House Culture do grande Hermeto, e para completar, abri a noite para o lendário Victor Simonelli, que me presenteou com vários discos e me elogiou muito pelo set, o que me deixou feliz de uma forma inimaginável.
TUNTISTUN: Conta pra gente como foi a aventura de tocar na Amazônia? Foi um baita evento, certo?
Cara, na moral, a primeira ida foi um sonho, fui para tocar em uma tenda de novos talentos, mas o Carlos Soul Slinger, dono do evento e do selo Liquid Sky Music, me convidou para a maloca Jungle, ele simplesmente falou, “você entra logo depois do L Double.” E eu na cabeça, caraca eu vou tocar depois do cara que fez uma das músicas que eu mais gostava de tocar “When The Morning Comes” que ele fez com o Micky Finn. Cheguei na maloca, e encontro nada menos que o Mulder e outros DJs de Drum n Bass ingleses, que me receberam de braços abertos. Fui dar uma volta e me pego de frente com o Afrika Bambaata. Durante meu set que fiz Back to back com o DJ Fábio Machado do Rio de Janeiro, fomos acompanhados por MC Fun e o MC Márcio do Rio de Janeiro, paramos de tocar estava amanhecendo.
No ano seguinte novamente na floresta, Ecosystem 3.0, primeira noite, cedo 22hs mais ou menos, chegamos no local do evento, carros, vans, ônibus fretados e por ai vai, Soul Slinger me pede pra abrir, essa abertura foi até mais de 3 horas da manhã, a galera gritava, pulava dançava, e as batidas quebradas e os graves bombando, até entrevista tocando teve kkkkkk, a TV estava ao vivo, e a repórter precisava me entrevistar, fiz um backspin na música voltando ela pro início e foi o tempo de responder as perguntas kkkkkk, quem acompanhou bem essa aventura meu um cara que se tornou um grande amigo, Rodrigo Farinha ou Faraz pra outros. Sem contar a quantidade de discos e cds com dubplates de músicas ainda nem lançadas da época, cara que lembrança boa viu.
Ter tocado em duas das 3 Ecosystem que foram na floresta foi uma experiência inesquecível.
TUNTISTUN: Tem algum(a) Djs da nova geração que você acha que merece a nossa atenção?
Pra mim é complicado dizer exatamente algum, tenho saído pouco, até por conta da agenda do Dudu Bar, mas a grande maioria da galera que está tocando hoje tem um futuro, a música sempre tem inovado, e a nova galera está bem alinhada, então não posso citar nomes exatos, mas espero que todos eles, possam levar a cultura DJ a diante, mesmo diante das dificuldades
TUNTISTUN: E os Djs históricos da cidade? Quem a juventude precisava conhecer?
A juventude precisa conhecer todos os históricos, pois temos históricos de vários estilos musicais, do Hip-Hop ao Trance, temos grandes nomes, DJs que fizeram e fazem, alguns pararam, até hoje parte da história da música eletrônica do DF. Todo DJ mais antigo daqui tem um pouco para acrescentar no conhecimento da juventude, o que tem faltado são eventos que possamos reunir a galera antiga para tocar para a juventude, pois todos têm o seu tempero especial.
TUNTISTUN: E a produção musical, ainda ta tendo tempo para se dedicar?
Hoje em dia estou mais relaxado com a produção, volta e meia solto um remix ou um bootleg. Algumas músicas estão para sair, e tenho várias para terminar. Com a minha correria de trabalho, faculdade, cursos de especialização e a residência do Dudu Bar, acaba que meu tempo fica curto, mas sempre que posso, tento produzir algo que me faça ter vontade de tocar o som.
TUNTISTUN: Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?
Atualmente meu som e minhas pesquisas tem sido mais direcionadas, devido ao som que levo no Dudu Bar e o som que toco no Esquenta Metrópoles da rádio Metrópoles FM. Então vou colocar nas 5, músicas de ambos.
Sartorial, Simon Kennedy – Can’t Be Me
Green George, JimiJ – Hooked On You (HP Vince Mix)
DJ Mark Brickman, Vanessa Jackson – Dancer
Alok, Vintage Culture – Party On My Own (VIP Mix)
220 Kid & Gracey – Don’t Need Love (TCTS Remix)
TUNTISTUN: O que você acha da energia da pista de Brasília?
Brasília sempre teve uma energia fora de série, tanto que todos de fora quem vieram tocar aqui, na época das boas festas, sempre diziam que tocar em Brasília era uma experiência inesquecível. Temos hoje à noite mais limitada, seja pelo fato da falta de Clubs, quantidade limitada de festas e poucos locais para dançar, ainda mais com essa pandemia. Mas eu creio que depois da pandemia a coisas voltem a ser melhores para a noite de forma geral.