Brooks: De iniciante a professor
Brooks é daqueles Djs que passaram por tudo na carreira, que ganhou experiência e aprimorou seu feeling com a bagagem que conquistou, e hoje ensina essa arte aos interessados.
TUNTISTUN: Grande Brooks, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você que é dos Djs mais talentosos e atuantes da cidade. Vamos falar um pouco da sua trajetória, beleza?
BROOKS: Oi Gui, tudo bem. Muito obrigado pelo carinho e o suporte de anos, meu querido!
Vamos nessa…
TUNTISTUN: Vamos falar um pouco do início de tudo? Conte mais sobre você, onde nasceu e como foi sua infância e adolescência?
Eu nasci em Brasília, criado entre a Asa Sul, P.Sul e Cidade Ocidental na década de 80/90. Privilegiado de morar na “2”, a quadra sempre foi movimentada, andava de Skate, de bicicleta no setor de embaixadas, jogava bete, corrida de tampinha, bolinha de gude, passava o dia em cima de pé de manga/amora, escutava música com os amigos e treinava os passinhos pra dançar na matinê… rsrs. Filho de pais Maranhenses, os fins de semana e datas comemorativas, eram na casa da minha falecida vó paterna na Ceilândia, com muitos tios(as), primos(as), a família é gigante. Reunião com muita comida, música, golzinho na rua, soltar pipa, tomar Baré e comer o melhor cuscuz de pano (esse é pra poucos) de vovó. Comecei na Natação aos sete e nadei por mais de 20 anos. No colégio tocava na “banda marcial”, jogava bola, basquete, vôlei… ficar parado nunca foi uma opção.
TUNTISTUN: Você sempre foi um cara ligado em música desde cedo? Qual sua relação com a música na sua juventude?
A música me pegou logo nos primeiros anos de vida. Meus pais escutavam muita música em casa, tinham alguns bons discos (The Beatles, Pink Floyd, Dire Straits), e nessa época um tio morava com a gente que escutava Michael Jackson, Pet Shop Boys, A-ha. Já na casa da minha vó, escutava de Milionário e José Rico à Alibi, Cirurgia Moral. Ganhei meu primeiro disco de “balanço” (Technotronic – Pump up the jam) em 90. Colecionava fitas do Mix Mania do saudoso Celsão (RIP). Em uma conversa recente com meu irmão, ele lembrou que compramos juntos o nosso primeiro CD de Rap, Diário de um feto do Câmbio Negro. Acredito que a paixão pelo Funk, Groove, pela música negra, vem das referencias familiares.
TUNTISTUN: Quando e como você descobriu a música eletrônica?
Por mais que eu tenha sido exposto há muitos tipos de música, as que mais me chamaram atenção, eram que tinham um “tuntistun”, clichê ou não, essa é a real. A geração coca-cola não era a minha praia. O Rock (Legião Urbana, RPM, Paralamas do Sucesso) nunca me chamou atenção, apesar de entender o movimento hoje. Gostava de escutar Mix Mania, Festa Funk, Miami Bass, Freestyle. Morava no terceiro andar e no prédio da frente, tinha uma amiga do meu tio que passava a tarde tocando freestyle (Tonny Garcia, Stevie B, Noel…) com dois toca discos e mixer numa penteadeira com espelho na frente dela. Passava a tarde toda debruçado na janela ouvindo/vendo ela tocar… Um outro amigo sempre que ia visitar o pai no Rio de Janeiro, trazia vários discos de Funk. Éramos crianças que colecionávamos música.
TUNTISTUN: Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?
Interessante pensar nisso, pois foram nas festas dos amigos da quadra e do colégio que tenho os primeiros contatos com esse universo do DJ, mas foi vendo os DJs da 402, Lucio Balla (RIP) que morava na 204 sul e indo para as matinês ver Elívio Blower mostrando tudo aquilo com maestria, ele tinha tudo né?
TUNTISTUN: E logo que você gostou da música decidiu ser Dj? Como foi esse caminho?
Colecionando músicas desde pequeno, fitas cassetes, alguns vinis de dance music, CDs, frequentando festas e matinês, em 96 junto com um amigo de infância e os aparelhos de som do pai dele, começamos a fazer nossas primeiras festas como prestadores de serviço de sonorização e iluminação. De 1996 até 2003 atuei como DJ open format, tocava tudo que era pedido, mas já escutava House, Eurodance, Jungle e Drum’n Bass, estilo que amo de paixão. Por volta dos anos 2000, comecei a frequentar as primeiras raves de trance que rolavam no Lago Oeste, mas Marky estava na cidade praticamente todo fim de semana. Eu estava em todas as gigs dele por aqui, e foi através dele que fui descobrindo as festas alternativas, até que fui parar na festa da embaixada da Bulgaria com Bryan G, Marky e um tal de Lui J que “lançou a braba” 138 track do Zinc. Eu virei fã do “patrão” e fui ver ele tocar novamente no Laboratório, no Space Bar na asa sul. Por lá, encontro uma prima (Obrigado Lari Brasil) que é muito amiga do Lui, e me passa o MSN do Lui J. Viro frequentador assíduo do Lab, vejo toda aquela cena com Poeck, Freeky e cia quebrando tudo nos toca discos, mas continuo minha peregrinação em busca de novos sons, até que comprei uma edição da DJ Sound que veio com um CD com músicas do Carlo Dallanese, Ricardo Coppini, Viktor Mora e Vaddão. Era House, Techno, Tribal tudo junto e misturado, eu não conhecia nada, só gostei dos sons. Cansado de atuar como DJ open format, e indo para as festas de música eletrônica, 2003 escolho o codinome Brooks e começo a comprar meus primeiros discos de techno pensando que era House. Rsrs
Em 2004, conheço muita gente que me abriram as portas. Através do Lui J, consegui o contato do Ricco, pra mandar meu primeiro set em vinil. No dia de encontrar para a entrega do CD, Ricco não estava no local no horário combinado (encontro de DJs na loja do Krizz no Conic), mas quem estava lá? Francisco Ahmed, eu não fazia ideia quem era o Ahmed, mal sabia eu que nunca mais ele sairia da minha vida. Falei que tinha combinado de encontrar o Ricco pra entregar o CD, mas eu precisava ir embora, pois era domingo e ia passar o último ônibus pra casa (época em que morei na Santa Maria). O DJ ficou com o meu CD, escutou, viu que a gravação estava um lixo (gravei na saída do microfone) e começamos a conversar sobre música. E um mundo se abriu, conheci lojas de discos, novos artistas, house, techno. Ahmed foi o primeiro cara que me deu um VIP, fui vê-lo tocar no Kingston, na festa (Hertz). Lá conheci Marçal, Groover, Cheekey, Jotta Reis e foram com eles, as minhas primeiras apresentações. Comecei a ganhar respeito de nomes como o Xandy, professor de uma galera e mestre em técnica de mixagem, nunca vou esquecer o primeiro Feedback que ele me deu. Em 2006 é a vez de ouvir do Hopper falando que eu seria um grande destaque naquele ano, e assim foi. Daqui a pouco estava tocando para Hopper, Giovanni Fernandes, Komka. Já sabe onde isso vai dar né? Isso mesmo, 5uinto. Uma história a parte, parte do meu crescimento artístico. Experienciar aquelas noites, sendo público, DJ, divulgando, fazendo logística, ajudava sempre que podia. Noites históricas, vi grandes ídolos, toquei com muitos artistas que admiro, conheci muita gente, vivi grandes amores. 5uinto é só alegria. Obrigado Komka e Ruiz por tudo.
Uma pausa em 2011 para aprender inglês e viver um grande amor nos Estados Unidos. Mudança pessoal, aquelas viradas de chave na vida, serei eternamente grato a esse momento. Em 2013 volto para a cidade, cheio de equipamentos na bagagem e temos a ideia do Crazy Cake Crew. Essa parte da história está mais fresca, só procurar nas nossas redes sociais…rsrs
TUNTISTUN: Diz para gente 5 músicas que te marcaram no início da sua descoberta na música eletrônica?
Technotronic – Pump up the jam
Tony Garcia Ft Lil Suzy – Take in your arms
Fresh Celeste Ft M-4 Ser – Get It Boy
Robin S – Show me Love
Carlo Dallanese & Viktor Mora – Tribal Adventures (som que me fez escolher o “House” em 2003)
TUNTISTUN: Você foi um dos caras que também conseguiu um espaço nacional, morou fora do país e tudo, mas acabou voltando pra cidade, o que te fez ou o que te faz ainda ficar em Brasília?
A música me faz fazer cada coisa! Quando eu fui pra gringa, eu fui na intenção de aprender inglês, ficar do lado da namorada, arrumar um trampo e começar a comprar equipamentos. Quando chego em 2013, eu estava com computador, Traktor, monitores de referência e doido pra tocar, apesar de ter tocado algumas vezes por lá. A ideia inicial era “cuidar da vida”, estudar pra concurso, estabilizar, aquelas ideias tortas dessa cidade. Tinha meu ciclo de amigos festeiros de volta, vontade de tocar, 5uinto, bebida, vamos se divertir… rsrs. O #CCCP nasce pra mostrarmos as nossas referencias através do podcast. Não foi planejado, reunimos os “doidos”, chutamos a bola pra cima e saímos correndo…
Pensando na caminhada, a música me fez voltar, lá fora tive a oportunidade de observar/aprender/experienciar mais coisas, que resultou em mais conhecimento/motivação pra lidar como um trabalho real, até então sempre em segundo plano. Ela me fez ter essa ideia maluca e trabalhar de fato com ela, mas a cidade ainda não está preparada. Faltam clubs, investidores, conhecimento do público sobre a história da música, maturidade, respeito… Amo essa cidade, mas gostaria de estar fora do quadrado mostrando o groove pra mais gente, adoro uma estrada!
TUNTISTUN: Conta um pouco da sua história como professor de discotecagem, como é ensinar essa arte aos mais jovens?
Esse ano faz 25 anos que eu toco, então dá pra imaginar em quantos tipos de equipamentos já toquei. Porém, desde que estou na música eletrônica eu nunca tive equipamento em “casa”. Sempre tocando na casa de amigos, gravando set com equipamentos emprestados, alguns ao vivo, indo para as festas/clubs/raves/festivais observar o que os DJs estavam fazendo e sets gravados por vídeo, foi assim que eu aprendi. Tocar em equipamentos mais novos nunca foi uma realidade, a forma que me capacitei foi vendo ao vivo, assistindo coisas na internet e quando se tem oportunidade, a gente testa né? O trabalho intenso desenvolvido no Crazy Cake resulta em conhecimento e segurança para assumir essa posição de “professor” de discotecagem. Ser DJ significa “viver” na noite, e história temos um pouco pra contar né Gui? Rsrs Tem coisa melhor do que falar de grande noitadas de música eletrônica?
Música é matemática, mas tem muita história, é cíclica e eu vivi alguns… Consegui desenvolver um “jogo de video game” no meu curso onde o aluno vai passando de fases, essas que contém história, matemática, pesquisas, beatmatching, técnicas de mixagem e um set bem mixado como “chefão final”. Tento mostrar que é um processo, mas requer uma rotina, paciência, estudo, muito estudo e que se você não estiver se divertindo, você está fazendo isso errado!
TUNTISTUN: Tem algum(a) Djs da nova geração que você acha que merece a nossa atenção?
Brasília sempre teve ótimos mixadores, e esse lance de nova geração é confuso pro momento que estamos vivendo, mas pensando no sentido literal, vamos lá: Allice_D (gosto das progressões que ela faz nos sets) e Avec (pura energia, arrochadinha da estrela). Agora se couber produtor, eu preciso mencionar Allan Blue e Truecall.
TUNTISTUN: E o que você curte além de música, tem mais algum assunto que te apaixona?
Eu gosto de estar em movimento. Adoro pegar estrada, estar perto do mar, malhar, nadar, correr, pedalar…
TUNTISTUN: Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?
Diego Lima & James Hopkings – Pressure (Carlo Lio & Carabetta Remix)
Ackermann – Consciouness (Marcal Remix):
Farid Odilbekov – Mobile 2:
Montei – Danndan
Sasaki Hiroaki – Killing Weather:
TUNTISTUN: O que você acha da energia da pista de Brasília?
É incrível né Gui, quem goxta, goxxta!!!
Obrigado Tuntistun por contar a minha história