Dando Close com Marttinez – 2022
[TUNTISTUN] E aí, tudo bem? Conta para a galera de Brasília um pouco de você, do início da sua carreira?
[Marttinez] Opa, primeiramente agradeço demais ao pessoal da Tuntistun por me dar espaço para trocar esse papo, vocês perceberão que converso bastante e me empolgo ainda mais quando começo a escrever, mas espero agregar de alguma forma aos leitores. Vou priorizar o start inicial porque acredito que muitos pecam no básico (pesquisa e técnica). Eu particularmente acredito que o começo da carreira de um DJ começa já na infância como um pesquisador.
Me lembro de ter uns 7 ou 8 anos de idade e ficar gravando músicas dos cds e rádios e criando minhas primeiras “playlists” em fita K7 (os jovens não entenderão, rs). Quando fui morar em Santa Catarina pela primeira vez, tive um contato muito mais próximo com a música eletrônica, onde tive a oportunidade de fazer o curso de DJ na AIMEC e tive muitas aulas com o Mateus B. (Jayboo), Dante Pippi, Rodrigo Farinha e Rafael Araújo, que me garantiu uma base de aprendizado fora da curva.
Ao sair do curso comprei uma controladora e a partir daí fui treinando e diminuindo os recursos de ajuda do software, até me desafiar a mixar sem olhar para a tela. Quando me senti apto, participei do Desafio de DJ da AIMEC e fiquei em 4º lugar no meu primeiro ano de carreira.
E você conhece alguma coisa de Brasília? Qual a expectativa?
Pouca gente sabe, mas eu sou “candango” de nascença e nunca morei em Brasília. Tenho vários parentes por aí e mesmo conhecendo pouco a cidade e as festas, adoro Brasília, desde pequeno é tradição comprar uma pizza na Dom Bosco toda vez que passo por ai (kkkk).
A expectativa pra festa é a melhor de todas, o local é maravilhoso, confio no Carlos Ferrari e tenho certeza da competência de cada DJ que vai dividir responsabilidade comigo de trazer uma ótima experiência sonora ao público, que pra mim, é o principal objetivo da noite/manhã.
E o que você toca de som? Quais suas influências?
Por volta de 2014, o que chamamos de progressive house estava escondido atrás de outros gêneros, e aqui no Brasil a cena era praticamente inexistente, a ponto de precisarmos por várias vezes explicar que aquele DJ de “techno”, tocava muito mais prog do que de fato techno. Nessa época insistentemente levantei a bandeira do house progressivo, mesmo não tocando exclusivamente músicas do gênero. Eu chegava a ser chato de tanto que falava do assunto, mas eu acho que essa atitude minha e de alguns outros entusiastas teve uma função importante na época. No momento presente o estilo tem conquistado seu espaço e eu não preciso mais levantar essa bandeira com tanto afinco.
Por conta de toda essa história que contei, atualmente não gosto de me rotular, poderia facilmente dizer que eu passeio entre o deep/organic, techno e até tech house, sempre pendendo pra um lado mais progressivo. Para a Dash, estou levando músicas melódicas com uma certa carga emocional, no entanto também estou levando muita coisa groovada, séria e cadenciada, pretendo entrar nesses dois universos do progressivo/techno. Ficou um pouco confuso? É mais fácil escutar e sentir. Eu costumo dizer que cada pessoa tem sua forma de analisar e de classificar a música.
Minhas maiores influências de infância vão desde new age como Enya; até Zé Ramalho e bandas como Supertramp, Pink Floyd e Simply Red. Atualmente, pra destacar Djs/Produtores: Ricky Ryan, Guy J, Jeremy Olander, Dominik Eulberg e como todo amante de progressivo, fica difícil não gostar da forma como Hernan Cattaneo conduz as longas jornadas como no último domingo, que transmitiu ao vivo 9 horas de set. Saindo um pouco da linha de som que toco, me pego dando longos e longos repeats no álbum do Todd Terje.
E o que você tem achado do momento musical da eletrônica no Brasil?
Honestamente penso que o momento atual no Brasil é de aprendizado e amadurecimento. Aquilo que comentei anteriormente sobre um estilo ficar escondido por desconhecimento, vai ser cada vez mais raro e acredito que em alguns anos, o público em geral já vai conseguir distinguir minimamente os principais estilos de música eletrônica. Gostaria de destacar que eu acredito que a cena do Indie dance tem possibilidade de vir forte nos próximos anos se algumas pessoas fizerem o que fizemos com o prog em meados de 2014 em diante.
Tenho observado que após esse longo período de pandemia alguns anteciparam a aposentadoria das festas, a tendência é que haja uma renovação no público e surjam naturalmente mais jovens nas pistas e cabe a nós dar o exemplo de que na pista de dança da música eletrônica, só entram respeito e boas energias. A quantidade de festivais que estamos tendo (Time Warp, Afterlife, Eric Prydz, Anjunadeep, etc) é uma confirmação de que a cena só tende a crescer.
Conta um pouco da cena da sua cidade, o que tem de legal? Alguns djs pra indicar?
Itajaí é a cidade onde fica o Warung. Como se não bastasse, em cidades bem próximas temos o Surreal Park, Green Valley, El Fortin, Matahari, o recente Groove Club, e por aí vai, isso que nem chegamos a citar os de Florianópolis. Ou seja, tem pra (quase) todos os gostos, seja mainstream, ou mais profundo.
O Surreal, pra exemplificar, abriu as portas nos últimos dias de 2021 e já trouxe até a presente data: Sebastien Leger, Agents of Time, WhoMadeWho, Giorgia Angiuli, Traumer, DVS1, wAFF, Carl Craig, Denis Horvat, Marco Resmann, Hector, Pan-Pot, e até o trio de jazz/fusion Azymuth, FODA demais . Gostaria de citar também que além desses locais fixos, existem algumas festas itinerantes que valem a pena conhecer, como a “Seas”, “Detroit Br” e em Floripa a “Don’t Label Me” promete bastante futuramente.
Escute um set do Dj gravado para a Haus.it: https://soundcloud.com/playhausit/marttinez-4hausit-86