DEPRESSÃO: COMO A VIDA NOTURNA PODE LEVAR À DEPRESSÃO ENTRE PROFISSIONAIS

Com o aumento de casos de depressão no mundo e com o crescimento dos registros de Burnout, DJs, produtores e outros profissionais da música eletrônica precisam deixar o alerta ligado 

Poderíamos chamar de “mal do século”? Uma coisa que não podemos negar é que mesmo sendo um assunto que ganhou mais visibilidade com a pandemia de Covid-19, a depressão vem afetando milhões de pessoas há muitos anos. É evidente que a vida moderna favorece alterações cerebrais que levam à depressão, isso tem se tornado um fenômeno bastante significativo dentro de diversos contextos e o universo da música eletrônica, por sua vez, não foge à regra. 

A depressão é um transtorno de saúde mental que pode afetar pessoas de todas as idades, gêneros e profissões, incluindo os profissionais da música eletrônica. A verdade, na indústria da música eletrônica temos um histórico de problemas relacionados à saúde mental que incluem principalmente depressão, ansiedade e uso excessivo de substâncias.  

depressão
musicoterapia – promove comunicação, expressão e aprendizado.

A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL NO MUNDO DA MÚSICA

Em 2019, a Record Union – plataforma de distribuição digital, realizou pesquisa com 1.500 músicos e constatou que 73% dos participantes sofrem de alguma doença mental, especialmente entre 18 e 25 anos. As doenças mais citadas são depressão e ansiedade, além de ataques de pânico. Entre eles, 40% afirmaram ter buscado ajuda profissional, enquanto mais de 50% revelou se automedicar e fazer uso de álcool e drogas para amenizar os sintomas. E apenas 19% afirmaram ter apoio dentro da indústria musical. 

O Brasil lidera o número de casos, os níveis de ansiedade estão em 63%, e de depressão em 59%, segundo pesquisa realizada pela USP em março de 2021. A pesquisa contou com dados coletados em universidades de 11 países. Sendo que a pandemia, o isolamento social somado a paralisação total do setor de eventos foram fatores que potencializam os problemas relacionados à saúde mental dos que trabalham no ramo. 

Para nós DJs, a pressão pode vir de diversas fontes, incluindo a necessidade de manter uma imagem pública, lidar com a crítica, pressão por novas músicas, muitas apresentações para viver do seu trabalho, horários apertados e a competição entre outros artistas, enfrentar a solidão das viagens e da vida na estrada, e a pressão para se manter atualizado com as tendências musicais. Além disso, a falta de sono e a ingestão excessiva de álcool e outras drogas também podem contribuir para a depressão. 

Sempre vemos nossos artistas favoritos nas redes sociais mostrando viagens, festivais lotados, pessoas lindas e sorridentes, sucesso e satisfação pessoal. Mas não imaginamos o que há por trás daquelas pessoas. A Síndrome de Burnout, segundo o Dr. Drauzio Varella, é “um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes”, algo que vem se tornando cada vez mais comum na cena. 

A NOVA REALIDADE QUE A PANDEMIA TROUXE

Num contexto mais local, temos novamente festas efervescentes, um mercado aquecido porém com muitos artistas sofrendo, passando por comparações, dificuldades para investir e desenvolver a carreira. Os motivos são muitos e o importante é deixar o alerta ligado, a palavra de ordem é Prevenção!

Durante a pandemia, milhares de pessoas tiveram de se reinventar em todos os sentidos, tanto profissional como pessoalmente, o que gerou uma série de aprendizados que valem a pena ser observados, como o caso da necessidade em falar sobre saúde mental. Não somente músicos tiveram de se adaptar, profissionais de todo tipo do setor de entretenimento, como fotógrafos, produtores, donos de estabelecimentos, promotores de eventos e outros, se viram obrigados a procurar novas formas de se desenvolver. 

Em agosto de 2020, a Pioneer lançou um documentário que retrata como tem sido a relação da indústria da música eletrônica com a pandemia. “Distant Dancefloors: Covid-19 and the Eletronic Music Industry” conta com a participação de grandes nomes como Honey Dijon e Eats Everything, entre outros.

O documentário pode ser assistido a seguir, ou no próprio Youtube. 

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PREVENÇÃO, INFORMAÇÃO E DISCUSSÃO

Precisamos previnir, assim como abordar e quebrar o tabu sobre falar em suicídio. Diferente do que muitos acreditam, empatia não é apenas se colocar no lugar do outro, mas sim compreender o mundo e o sentido que as coisas têm para o outro, do ponto de vista dele, sabendo de seus valores pessoais e dificuldades, poder de compreender e aceitar suas escolhas e sentimentos. 

Com o passar dos anos, este assunto delicado que é saúde mental vem deixando de ser tabu e gradativamente está sendo colocado em discussão. Muitos artistas se mostram cada vez mais confortáveis para compartilhar suas experiências que envolvem ansiedade, depressão e vícios. Juntamente, novas iniciativas buscam auxiliar os profissionais do ramo musical a terem melhor qualidade de vida estão surgindo.

Não há somente um culpado e ainda que sejam vítimas a maior parte do tempo, todos tem sua parcela de responsabilidade. Precisamos entender nossa responsabilidade enquanto sociedade, como comunidade, como artistas, como profissionais, e não diminuir o que não podemos sentir ou compreender. Este sim seria um exercício real de empatia. 

Todos nós acabamos passando por uma espécie  de “insalubridade” da nossa profissão pelo excesso de frustrações, dificuldades, invalidações e escassez de oportunidade. Pânico, depressão, ansiedade, burnout, insônia, estresse, falta de apetite, insatisfações com a vida, dificuldade nas relações familiares ou amorosas são pontos que podem levar a desistência da carreira  e algumas vezes ao suicidio.  

A muito temos ouvido falar em prevenção, mas acima de tudo precisamos tratar a saúde mental como um ativo comercial. Buscar informação e conscientização pode ser fundamental para que muitos consigam conciliar o trabalho com medidas que reduzem o estresse e boas horas de sono. 

Para combater a depressão, nossos profissionais podem adotar uma série de medidas, incluindo cuidados com a saúde física e mental, estabelecimento de rotinas saudáveis ​​e equilibradas, busca de ajuda profissional e confidencial, e conexão com a comunidade de DJs e profissionais da indústria da música. Algumas organizações, como o Music Minds Matter, oferecem serviços de suporte gratuitos para profissionais da música em dificuldades emocionais.

Um rede de apoio também é necessária em qualquer estágio da carreira, seja no início onde ainda falta o sucesso e o aspirante ainda se vê numa montanha russa de inseguranças, ou num estágio mais estável, onde a falta de rotina e tentações como excesso de substâncias podem levar a casos mais infortúnios. 

Para finalizar uma indicação necessária, não só para os que vivem no universo da música eletrônica, o documentário “Avicii: True Stories”.

O documentário mostra de perto como era o dia-a-dia de Avicii e vai na contramão do imaginário de muitos, que imaginam que a vida de um DJ famoso é feita de fama, glamour e conforto. Nele fica evidente o quanto o ritmo acelerado da rotina do artista teve impactos profundos em sua saúde mental.

Confira o trailer a seguir.

É importante destacar que a depressão não é um sinal de fraqueza ou falta de profissionalismo e que é possível buscar ajuda e cuidar da saúde mental sem comprometer a carreira artística. Também precisamos relembrar que não é motivo de vergonha se sentir sobrecarregado. A conscientização e o diálogo sobre a saúde mental na indústria da música eletrônica podem ajudar a combater o estigma e incentivar a busca por ajuda.

Não importa o que você é ou o que faz, vivemos em uma sociedade exigente que busca por perfeição e pessoas auto suficientes constantemente. Busque ajuda mesmo que ache que esteja bem. Música é sentimento, é catarse e para muitos de nós que a transformamos em profissão precisamos estar com a mente e o corpo funcionando em perfeita harmonia. 

Encerrando deixamos o lembrete para todas as pessoas, leitores, Djs, amantes da música eletrônica: nossa saúde mental e física deve ser prioridade, cuidemos de nós mesmos e cuidemos uns dos outros. Encontre seu equilíbrio, não se deixe de lado. 

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Pedro Caixeta

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