Entrevista com Cxxju: Um olhar sobre o som carregado, pesado e diferente.
DJ CXXJU passeia por varias vertentes como techno, house, disco, r&b, hiphop, jazz e latinidades, com ampla pesquisa a dj natural de brasilia é bem habituada a cena local do quadradinho. Produtora cultural, é cabeça do coletivo SUJO, BELZEBAILE além de liderar vários movimentos transgressores da cidade. Hoje ela é a nossa convidada.
TUNTISTUN: Cxxju, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você que vem despontando na cidade com um grande talento, vamos falar um pouco da sua trajetória, beleza?
CXXJU: E ai galera! Tudo certo! To super feliz de ter esse espaço aqui também pra compartilhar com vocês um pouquinho dessa trajetória! Vamos nessa
TUNTISTUN: Vamos falar um pouco do início, conta um pouco de você, onde nasceu e tal, conta pra gente como foi sua juventude?
Eu sou natural daqui de brasília mesmo, cresci no cruzeiro novo, morei lá com minha mãe e avós até os nove, a única música permitida na casa era a música clássica, ouvi incansavelmente música clássica até meus nove anos, exceto quando ia visitar meus primos e tia em Goiânia e lá era rock e bossa nova o tempo todo, então cresci muito sobre os pilares destes três estilos. Minha juventude em um geral foi muito de brincar na rua, mas lembro que desde novinha eu vivia pedindo dinheiro pra minha mãe pra fazer festa, eu fazia festinhas no salão embaixo do prédio sem pretexto algum, acho que era a veia de produção cultural já se manifestando, eu organizava luzes, dj, decoração, bebida, e tudo mais… mal eu imaginava que com o passar dos anos eu trabalharia com isso em algum ponto.
TUNTISTUN: O que você escutava antes de escutar música eletrônica?
Com 13 anos eu ganhei meu primeiro computador, e aí adquiri a mania de baixar discografias completas de vários estilos musicais variados, onde organizava por pastas, eu ouvia de tudo um pouco, mas tive uma grande fase da minha vida em que acompanhei o post-hardcore e o hardcore, depois descobri a trap music (na época em que era meramente eletrônico, ainda não tinha se esbarrado com o rap nesta altura) assim que descobri a trap music me veio a ideia de idealizar uma festa com produção 100% feminina, onde tocava muito funk misturado com trap: O favela bass. Virei dj nessa época, toquei muito trap e favela bass e afrobeat
TUNTISTUN: Quando descobriu a música eletrônica?
Ainda como DJ de favela bass, eu comecei a frequentar o 5uinto, a uns 5 anos atrás…Pra ser sincera eu não curtia muito no começo não kkk mas algo sobre a pista ouvir uma música inédita e se deixar levar e curtir e se entregar me mudou, e comecei a prestar atenção. Sempre fui muito do bass, da dança, e demorei pra entender que a música eletrônica é um tipo de hipnose, de história e locais onde o dj te leva e você fica completamente refém do que ele tem a mostrar naquele momento. Aí foi quando idealizei a SUJO com a Ana Ramos, Stênio e Cesinha, toquei bass no começo mas como a festa me oferecia um leque de opções para experimentar, me joguei no Hard Drum logo depois fui fluindo para um techno mais percussivo e depois me entregando de vez ao techno e ao house.
TUNTISTUN: Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?
Eu acho que minhas referências foram e são aquelas pessoas que cresceram junto comigo e com a SUJO, como por exemplo a SNM, a LIMBO… Foi muito doido porque eu frequentei festas de eletrônica antes de idealizar a SUJO e me divertia muito, mas a entrega realmente aconteceu quando vi que eu podia pesar a mão nesse nicho, e que assim como rock, a música eletrônica tem muitas vertentes, e fui me jogando de cabeça e meu crescimento nesse nicho foi completamente coletivo. Os djs que mais me influenciaram aqui do df foi o Ahmed (Crazy cake crew) e a PAL (Espaço vazio), já englobando tudo os djs que me inspiraram muito no início foram Four Tet, Randomer, Aluphobia, TSVI e a lista segue e segue enorme kk
TUNTISTUN: E logo que você gostou da música decidiu ser DJ? Como foi esse caminho?
Quando comecei a ser dj, não foi diretamente de eletrônica, comecei pela necessidade de sentir que as músicas já estavam começando a ficar repetitivas e sem construção, clímax, aí juntei com Ana Ramos meio que em uma brincadeira pra tocar em uma festa e acabou que deu muito certo, depois da primeira festa que tocamos as coisas foram fluindo naturalmente
TUNTISTUN: Diz para gente 5 músicas que te marcaram no início da sua descoberta?
Kromleq – Cazucuta
Cave – Street Carnival
Four Tet – Planet
Aluphobia – Black Plastic
Guadu – No man non ta
TUNTISTUN: Conta um pouco da história do surgimento dos coletivos que você participa, como foi o início de tudo?
A SUJO foi o início de tudo, do meu interesse pela eletrônica, de como eu me descobri e me posicionei dentro dessa cena, e ela foi o fator principal pro meu crescimento. A SUJO nasceu da necessidade de um local de total liberdade pra djs que tinham o som mais carregado, pesado ou diferente tocar, brasília estava num momento muito focado na pista comercial e a gente sentia essa urgência, e também sentia a urgência de misturar os dois públicos: rock e eletrônica, a festa contava com duas pistas, juntando as duas cenas undergrounds, e foi algo que casou de um jeito tão ímpar… tem gente que vem me contar que foi pra assistir um show de uma banda e se perdeu na pista de eletrônica e hoje em dia é technero de carteirinha e galera que foi exclusivamente pra curtir eletrônica ficou de cara com alguma banda da pista de rock e passou a acompanhar, eu acho a SUJO o melhor dos dois mundos. Já a Belzebaile eu iniciei com mais maturidade na cena e já com um público alvo certo para atingir, eu tive a idéia do nome e falei brincando pra Athena e ela super pilhou, todas as edições foram incríveis! A festa tem um pique de sátira e crítica a questão da ética e da moral serem baseadas em conceitos religiosos na nossa sociedade, nessa brincadeira a gente costuma dizer que se você é pecador, você é nosso tipo de público hahaha
TUNTISTUN: Como você vê a função do (a) DJ? É (ou deveria ser) mais ampla que apenas a atuação na pista?
Sim, eu acredito que na distopia que vivemos, ser não só dj mas como artista vem com um papel social, de defender e propagar e fazer o melhor pela cultura, de se posicionar a fim de nossos interesses para que a cena possa perecer e ser um local seguro, um local de expurgo, de alegrias, e por fim de música
TUNTISTUN: O que em geral a cidade poderia se desenvolver melhor?
Brasília carece de locais, de facilitadores para que a cena possa acontecer, tudo que é relacionado a cultura aqui está “empacado” se pegar o Teatro Nacional como por exemplo: um patrimônio cultural da cidade e completamente abandonado, se um local desses é tratado com descaso acho que dá pra imaginar como a cena underground sofre por aqui.
TUNTISTUN: Tem algum(a) Djs da nova geração que você acha que merece a nossa atenção?
E se tem! a galera da nova geração pra mim é sempre as que eu mais escuto e vou atrás, galera ainda tem aquele brilho no olho e a fome insaciável de pesquisa e algumas referências que a gente não costuma ter, meus favs são: ARMENIA, SLOW e GORE
TUNTISTUN: Fala um pouco das suas influências mais recentes, o que merece destaque?
Acho que quando a pandemia entrou eu me dei a chance de largar de ser doida de pista e adentrar em uma pesquisa mais calma, mas ainda com um quê de piração, passivo-agressiva assim por dizer , eu tenho ouvido muito shedbug, aloka e também to curtindo demais galera BR, perrelli, felix e galera da Zona EXP
TUNTISTUN: Qual outro assunto além da música que te encanta?
A produção cultural é com certeza minha queridinha dos olhos, eu sempre costumo falar que é ótimo produzir algo que a gente acredita e gosta do nicho musical, mas falo que se me chamarem para produzir aquele festival gospel de pentecostes eu vou com um sorriso no rosto kkkkk
TUNTISTUN: Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?
Aloka — View Source
Shedbug – Ambroxtil
Jimmy Slimz – devil on the dance floor
Dubran – Brainwashed Behaviour
Hermeth – Ei kitt
TUNTISTUN: O que você acha da energia da pista de Brasília?
Eu sinceramente acho que o que a gente tem aqui é ouro, já fui em festas em outros estados mas não é a mesma coisa, eu até brinco e chamo as festas de “igreja do techno” porque o pessoal vai e se joga mesmo, dança as bads pra fora e sente que está em um espaço seguro, já perdi as contas de quantas amizades fiz nas pistas das festas que fui, eu amo muito brasilia e muito mais nossas pistas e nossos fronts.