Com proposta Slowfashion e moda engajada no melhor estilo fashion revolution, a brasiliense Fernanda Ferrugem, desde 2002 assina uma das marcas mais conceituadas de Brasília, marca essa que leva seu sobrenome Ferrugem.
Passando por diversos eventos importantes como Capital Fashion Week, Brasília Fashion Festival, Eco Era em SP e p evento italiano Med Moda, a estilista apresenta um trabalho autoral, sua marca registrada, focada na sustentabilidade e a inclusão social. Apresentando looks compostos por peças artesanais com alfaiataria.
Empresária e artista da moda, tem um trabalho caracterizado pelo incentivo a produção local, com apoio às pessoas que amam o que fazem, ajuda a fortalecer pequenos produtores, a economia local e estimula a produção artesanal e cultural.
Com dedicação e muito trabalho, conversamos com Fernanda Ferrugem que conta um pouco de sua trajetória como estilista, empresária e amante da música eletrônica. Continue a leitura e conheça um pouco mais da nossa convidada também.
[TUNTISTUN] Li que o espaço Ferrugem era um negocio de familiar. Como descobriu a moda e como criaram o espaço?
Meu contato com a moda começou totalmente influenciada pelas mulheres da família, minha mãe e avó sempre trabalharam com costura. Desde que nasci a costura fazia parte da minha vida, fui criada em meio aos tecidos, linhas e agulhas. Foi tudo muito orgânico, sempre gostei, além da vó e mãe, minhas tias também sempre gostaram de moda, sempre foram muito criativas pra se vestir e eu sempre tive um encanto com o mundo da moda. Assim virei a estilista da família. Minha avó era costureira do Hospital Santa Lucia, minha mãe começou a costurar ainda criança, com 10 anos de idade e eu segui o caminho. Mas minha mãe não queria que eu seguisse este caminho, me mandava estudar, fazer um curso superior, algo mais acadêmico. Não fiz nada disso, porém não deixo de estudar e me atualizar sobre moda
[TUNTISTUN] Você diz, no IG, que pertence ao movimento slowfashion. Explique um pouco sobre o movimento e a influencia que ele tem sobre seu trabalho.
Desde quando comecei na moda tive essa pegada Slowfashion, sem saber que o movimento existia, sem saber deste rotulo. Desde sempre não produzo peças em larga escala, sempre gostei de garimpar tecidos, sempre gostei de comprar meu material de trabalho de pequenos empreendedores, sempre tive uma ligação muito forte com as costureiras que trabalham comigo, viramos uma família mesmo. E algo que identifica muito meu trabalho é que sempre tive uma preocupação com o que está indo pro lixo, busco aproveitar ao máximo meus tecidos e com o que sobrava, geralmente inventava alguma coisa. Também sempre gostei de fazer peças únicas e com o lance do garimpo de tecidos, se encontro algo, crio as peças e quando acaba, acaba, partimos pra outra, o que traz uma exclusividade. Tudo isso caracteriza o Slowfashion pra mim e o que mais marca meu trabalho em relação ao movimento é que me preocupo com o lixo, com o que vai ser jogado fora, porque a indústria têxtil, infelizmente, é uma das mais poluentes e a moda já foi muito irresponsável neste ponto. E agora está na moda a moda do Slowfashion e do Upcycling, que é aproveitar o que estava em desuso e transformar aquilo em outra peça. Tudo isso está no meu trabalho desde quando comecei!
[TUNTISTUN] Quando nasceu a estilista? Quando começou a fazer as primeiras criações? Como foi o processo de iniciar sua marca e se consolidar como criadora?
Não sou formada, minha faculdade foi dentro do ateliê, mas hoje tenho diversos cursos na área de moda e meu inicio foi bem orgânico. Eu trabalhava no comercio, era gerente da marca Triton, que hoje em dia não existe mais, e minha mãe sempre teve confecção e tinha um ateliê e eu sempre fui metida a criar roupas pra mim e elas se destacavam entre minhas amigas, todas comentavam. Um dia decidi sair da loja que trabalhava e a ideia era fazer cursinho, mas pra que não ficasse sem dinheiro, pensei: “minha mãe tem ateliê, vou fazer peças para vender”. Sai da Triton, peguei meu último salário lá e investi tudo em tecido. Fabricamos as peças que desenhei no ateliê da minha mãe, na época iria ter o chá de bebe do meu sobrinho, que hoje tem 19 anos, e vi ali a grande oportunidade de lançar minha marca. Foi tudo bem amador, sem pretensões e num momento muito gostoso. Ali montei uma loja, as roupas estavam prontas, já tinha um Know how da Triton, de vitrines e fiz uma coisa bem legal lá. Teve desfile também! Chamei umas amigas para desfilar e foi um sucesso. Todos adoraram, compraram uma peça para ajudar, sai de lá super feliz e certa de que era aquilo que queria pra minha vida. Dali em diante comecei a me envolver mais na moda, participei por muitos anos do BSB Mix, onde conquistei muitos clientes, sou muito grata a tudo ali. Depois comecei a participar de desfiles e até hoje não parei, são 20 anos de Ferrugem, meu bem!
[TUNTISTUN] Eu gosto de conhecer as experiências das pessoas e sei que fez diversos desfiles. Quando e onde foi o primeiro?
Participei de todos os eventos de moda em Brasília, graças a Deus. Foi muito bom e sinto muita falta destes eventos, estou torcendo que voltem, tem lançamento de muita gente legal. O primeiro desfile foi o do chá de bebe, que falei antes, mas o primeiro mais profissional foi na boate Garagem, uma boate gay que tinha em Brasília, da minha primeira coleção a mesma do chá de bebe (risos). Foi incrível, rimos muito, tudo lindo. Depois veio o Capital Fashion Week, depois BFF e outros.
[TUNTISTUN] Quais as maiores dificuldades que enfrentou pelo caminho na carreira?
Até hoje tem dificuldades, as mesmas dificuldades às vezes, sou uma marca independente. A moda pra mim é um desafio, sempre quero vir com uma ideia que desafie, que reflita em minha vida. Gosto de ir por um caminho que não é o comum, gosto de lançar ideias que provoquem sentimentos nas pessoas, que desperte um sentimento diferente. Não costumo fazer o que está vendendo no momento, as vezes lanço algo que as pessoas ainda não entenderam e percebo que elas vão entender lá na frente, então esse começo é sempre um tanto difícil pra mim quando lanço. Hoje em dia com a experiência, mais maturidade, estou conseguindo encontrar um meio termo, um desenho que está mais comercial, porém com um toque diferenciado. Não costumo fazer peças para vender aos montes e as pessoas demoram a perceber isso. Outro ponto é a mão de obra, tive uma costureira muito boa que trabalhou com a gente por 19 anos, começou com minha mãe e depois comigo, mas se aposentou. Até treinar outra pessoa que entenda sua linguagem, que entenda o jeito que o estilista gosta é difícil, porque cada marca tem um jeito de acabamento e tals. Ainda peno com isso.
[TUNTISTUN] Quais foram as maiores conquistas/crescimento na profissão?
Todo dia é uma conquista, é bom ver seu cliente indicando seu trabalho a outras pessoas. Essa divulgação orgânica, na boca a boca é o que mais me deixa feliz em estar conquistando a cada dia novos clientes. Vi muita marca começarem e hoje em dia não estão mais aí e eu mesmo com as dificuldades estou no mercado. É difícil fazer um trabalho de qualidade com poucos recursos, não sou rica, sou de uma família humilde, mas estou firme até hoje. Sei que muita gente curte meu trabalho e minha conquista diária é ver que depois de tanto tempo as pessoas gostam e indicam pra muitas outras, acredito que continuará a ser assim porque isso é minha vida.
[TUNTISTUN] Como é ser empresária, lidar com os negócios e criar?
Confesso que ser empresária é meu ponto fraco. Sempre preciso da ajuda da minha mãe para dar um direcionamento, mas mesmo sendo difícil tenho de fazer tudo. A empresa é pequena e faço todos os processos, os que gosto e os que não gosto, tenho de encarar. Se pudesse ficaria apenas criando, seria meu sonho. (risos)
[TUNTISTUN] O espaço Ferrugem era um negócio de família e por muitos anos foi um local de movimentações culturais. Que lembranças e aprendizados ficam de lá?
O espaço Ferrugem foi um sonho de ter um negocio familiar, juntando o que cada uma fazia numa casa de mulheres. Foram 15 anos de muitas coisas legais, já teve de tudo, desde show a festa de halloween. Foi uma fase incrível, mas acabou. Estava difícil pra gente, mesmo antes da pandemia estávamos pensando em separar e quando veio a pandemia firmou a ideia. Mas a mudança foi pra melhor, com certeza. Mudei do Guará para a Asa Sul, estou tocando sozinha o ateliê, minhas irmãs estão cada uma fazendo suas coisas também. E de 15 em 15 dias nos encontramos, fazemos nossas feirinhas na 113 sul e trabalhamos juntas, Isabela cortar cabelo e Rafa vende sucos, tem uma empresa de sucos. Todo mundo empreendendo e ainda temos um gostinho do Espaço Ferrugem e o encerramento desse ciclo foi bonito também. Vai deixar saudade, mas nesta nova fase estou aprendendo muito e curtindo a nova fase e novo endereço.
[TUNTISTUN] A moda tem passado por muitas mudanças e transformações. A tecnologia tem mudado a forma de viver e vem criando novos hábitos. Como é hoje para você, que vive da moda, essa transformação e como você vê o fazer moda no meio digital?
Eu não era muito conectada, mas foi na pandemia que eu me conectei. A imagem da marca e eu somos quase a mesma pessoa, nas redes sociais o perfil da marca é o meu e o meu é o da marca Ferrugem. Agora que aprendi a usar as redes tenho gostado bastante desta fase digital. Gosto do tipo de venda nas redes e como ela acontece. Descobri isso tudo na pandemia quando fui forçada a usar e interagir mais depois de ter ficado um tempo com o ateliê fechado. É um tipo de venda diferente, mas você consegue vender pro mundo inteiro. A cada dia conheço mais e estou amando.
[TUNTISTUN] Li que acredita na moda como um veículo de transformação, que gosta do novo e que vê cada coleção como um desafio. Quais os planos para essa nova fase em carreira “solo”?
Me voltei pro ateliê, estou com um montado na 103 Sul, uma loja em cima da Bio Mundo. E deixo aqui o convite pra todos conhecerem.
Quero ficar cada dia melhor no que faço, cada dia conhecer mais e realmente me transformar em uma grande estilista de Brasília, não só em nome, também em produtos. Sei que aprimorando sempre meu produto terei clientes e isso não deixará o negócio morrer. Sempre tendo a moda como um desafio, um veículo de transformação social. Também gostaria de me engajar com a moda no âmbito social, tenho alguns projetos de moda voltados para o social.
[TUNTISTUN] Li que acredita na moda como um veículo de transformação, que gosta do novo e que vê cada coleção como um desafio. Quais os planos para essa nova fase em carreira “solo”?
Vivi mesmo! (risos)
Minhas lembranças desta época têm Oblongui, amava Isn’t e The Six, não perdia uma festa deles. Lembro que na Experience me montava inteira, fazia roupa, pintava tudo de neon, era bom demais. Também fui casada por muito tempo com o Komka, que fazia o 5uinto e vivi intensamente esta fase e amo até hoje. Estou morrendo de saudade de uma pista.
[TUNTISTUN] A mansão Ferrugem teve vários momentos históricos que contribuíram muito para o fortalecimento de vários estilos, conta pra gente as festas e histórias mais legais da mansão Ferrugem?
Se as palmeiras dessa casa falassem. A mansão Ferrugem começou de uma brincadeira de uma grande amiga nossa que era jornalista, trabalhava no site Candango. Começamos a fazer festa lá na casa porque meu pai ficou desempregado e veio esta ideia como uma forma de dar uma força pra ele. Fizemos a primeira festa, a casa não tinha nome na época e minha amiga deu o nome de Mansão Ferrugem e pegou. Foram várias festas, muito engraçadas, bem amadoras, mas todos curtiam muito. Minha mãe era a hostess da festa, meu pai ficava no bar, minhas irmãs tocavam, pura diversão. Uma que me marcou muito foi a festa para as mães que fizemos durante a participação no programa Troca de Esposas, em que minha mãe passou uns dias com outra família e a mãe da outra família ficou com a nossa. Outra bem divertida também foi uma em que minhas irmãs começaram a brigar pois queriam colocar a musica ao mesmo tempo. Teve um halloween também incrível, uma fantasia melhor que a outra. Saudades Mansão Ferrugem, vários momentos incríveis. A casa foi demolida, tinha uma briga pelo espaço, meus pais lutaram durante anos, cuidaram do espaço também, mas a especulação imobiliária venceu. As lembranças que ficaram são incríveis.