Fgon: Conta sua história com a música

Fgon: Conta sua história com a música

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Fgon é amante de música, DJ e festeiro profissional. Ele abre seu baú de histórias e conta para o tuntistun sua jornada. Tendo vivido momentos importantes da formação da cultura eletrônica no Brasil, veio para Brasília e aqui ficou. Hoje ele é o nosso convidado.

TUNTISTUN: Oi Fgon, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você, que é um dos grandes pesquisadores de música da cidade, vamos falar um pouco disso hoje?

Salve, salve gente. Não fosse essa história de pandemia e uma certa áurea de tristeza por conta de tudo que está acontecendo em nosso país, estaria tudo 100%. Mas sou um privilegiado; tenho casa para morar e não estou passando necessidades, então estou bem. Tive alguns bloqueios criativos no ano passado, mas esse ano consegui destravar e estou trabalhando em algumas coisas novas e retomando alguns projetos que iniciei e não consegui terminar.

Bora falar de música que é sempre bom!

TUNTISTUN: Fala um pouco do início de tudo, me conta um pouco de você, onde nasceu e tal, conta pra gente como foi sua infância e juventude?

Cara, nasci e vivi em São Paulo a maior parte da minha vida. Já morei alguns meses no Rio a trabalho e me mudei para BsB já tem uns 17 anos. Hoje sou um “Brasiliense por adoção”. Amo viver aqui e acabei criando relações de amizade muito boas.

Mano, tenho recordações de levar vinil para a sala de aula no prézinho (a pré escola dos anos 80), nessas festinhas de escola por alguma data especial e a onda era só por conta de colocar uma música para os meus amiguinhos e amiguinhas de 4; 5 anos conhecerem: a Lua, do MPB4, um grupo vocal de música brasileira do início dos oitentas. Pra falar real essa música mexe comigo até hoje; os timbres, o baixo, os sinos; as contra vozes; fora o fato de ela falar de algo que me impressionava, a Lua- enfim ela é foda (pra mim pelo menos [risos]).

A música sempre foi trilha de algo pra mim. É realmente difícil lembrar de coisas que a música não tenha me acompanhado. Nessa época, também me apaixonei por propaganda (que viria a ser minha profissão de formação) e porque via uma série de filmes publicitários durante os comerciais de TV, muito simples, de uma marca de sapatos que se chamava Star Sax. A trilha era nada mais, nada menos que The Hall of Mirrors, do Kraftwerk.

Os filmes não tinham uma fala sequer e mostravam um homem andando em diversos lugares ermos (trilhos de trem, dunas de areia, etc). Um de meus irmãos tinha o álbum Trans Europe Express, desses gênios, que tinha essa música.

Isso me liga a uma outra paixão que fui desenvolvendo ao longo da infância e adolescência: o interesse por viagens espaciais e vida (de terrestres) fora da Terra, etc. Isso me fez olhar em direção às possibilidades da música eletrônica e por mais que não tenha tido a correta percepção na época, entender que música cria atmosferas. Mas minha vida musical era muito diversa, pois meus finais de semana na casa dos meus avós e dos meus pais era sempre acompanhada de música – latina, europeia, americana, orquestras, samba, mpb, rock, etc.

Acho que as festinhas começaram a aparecer na minha vida, quando tinha uns 9 anos de idade. E lá estava eu com meus vinis para apresentar som para os amigos conhecerem. Em SP, na minha idade, provavelmente eu fui o primeiro garoto a ter a ousadia de colocar Faroeste Caboclo da Legião para todos ouvirem em um bailinho. Isso aí foi um prenúncio do começo da vida como DJ. Hoje, quando olho pra trás, vejo que foi tudo muito natural.

TUNTISTUN: O que você escutava antes de escutar música eletrônica?

A parada na minha vida sempre foi muito misturada nesse aspecto. MPB, Samba, Forró e Música Nordestina, Rock, Funk (não o carioca), Disco eram as coisas mais frequentes que eu ouvia.

TUNTISTUN: Quando descobriu a música eletrônica?

Acho que a descoberta foi o Kraftwerk, com 5 anos. Eu realmente entrei em um estado de consciência alterado quando ouvia a Trans Europe Express deles.

TUNTISTUN: Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?

Em SP o lugar que me fez pensar nessa possibilidade foi a Up & Down; um mega club que ficava na rua Pamplona. Puta que pariu, os caras que tocavam lá tinham um repetrório foda; a casa tinha algo de mágico; o soundsystem perfeito. Depois de lá tinha o Tamatete que era um clube pequeno, mas tinha uma matinê aos domingos que era bem legal.

Já como DJ, estive na “primeira rave” feita por aqui. Foi a L&M Music, uma noite em uma fábrica desativada da Barra Funda, onde se apresentaram Mobi, Altern8, etc. Nessa época, comecei a abrir os olhos para outras possibilidades de música eletrônica.

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TUNTISTUN: E logo que você gostou da música decidiu ser Dj? Como foi esse caminho?

Quando completei 13 anos de idade, comecei a trabalhar em uma gráfica e o dono possuía uma danceteria (hoje um club – [risos]). Como estava fazendo incursões nesse universo, achava tudo bem interessante e obviamente a música era o ponto alto pra mim sempre. E pintou a curiosidade de saber como os caras colocavam uma música na sequência da outra sem abaixar os volumes [risos]. Fiz amizade com o cara que era DJ nessa casa noturna do dono da gráfica e acabava os dias ouvindo ele mixar discos novos, comprados para entrar no repertório; O Betão era um cara super técnico (tanto que trabalhava na parte técnica de áudio da Band). O maluco odiava ser chamado de DJ e sempre corrigia: discotecário. Ele nunca me deu aula, mas como sou curioso e ficava ali vendo ele mixar, um dia fui petulante o suficiente para perguntar se eu poderia tentar fazer uma passagem. Ele foi super tranquilo, me deu o fone e mostrou como fazia para ouvir a música que era pra entrar; o volume do mixer, a questão do pitch da technics, e nada mais. Fiz minha primeira mixagem com beat match quase perfeito. Ele meio que se espantou e perguntou se eu estava fazendo aula; mas respondi que não; que foi apenas de olhar ele mixar. A partir daí fui tocar nessa casa que teve vários problemas (de alvará ao dono ser preso, por falta de pagamento de fornecedores, etc).

E foi assim que comecei. Toquei em diversos clubes, alguns mais centrais na cena e outros mais periféricos. Conheci caras como o Mark antes da fama; Iraí Campos já consagrado, etc. Quando me mudei para BsB em 2003 eu só tocava quando era convidado por algum amigo. Não dava mais “expediente” direto em algum clube.

TUNTISTUN: No começo da sua carreira quais foram as músicas que fizeram sua cabeça? Coloca 5 aqui pra gente?

What’s On Your Mind – Information Society:

Walking Away Information Society:

e praticamente tudo do Tim Simenon, com seu projeto Bomb The Bass:

Bomb The Bass – Beat Dis

Domino Dancing do Pet Shop Boys

e Reckless do UB40 + Soul Sonic Force

TUNTISTUN: Você é um cara que tem muita experiência em pistas, foram anos se dedicando a isso, conta pra gente: quais momentos você tem guardado na sua memória?

Cara, acho que tem muitos. Cada um em um espaço e com pessoas diferentes. Um bem especial foi tocar como convidado na lendária Sound Factory ao lado do Mark e do Julião em uma época que eles não tinham toda a projeção de agora.

Algumas noites na extinta excalibur com o amigo Ben Hur e o experiente e preciso, Hélio. Algumas noites bem memoráveis em uma casa que fui residente; a Nepal, tinham uma áurea boa; e outras bem divertidas na The Point com amigos Jr Kain e Rodolfo Manara – eu ria e fazia rir de graça tirando sarro de tudo.

TUNTISTUN: Conta um pouco da sua festa que ficou famosa na cidade, que é uma das que representam o som mais festivo e alegre, quem faz a Boogie e quais histórias mais legais da festa você pode contar?

A Boogie é um projeto criado pelo FIBO (Fabio Rabelo) e que tenho muito orgulho de fazer parte e contribuir. O Fábio é muito preciso no que busca para a festa e temos muitas afinidades musicais, o que deixa tudo mais fluido.

Algumas pessoas que nunca foram à festa, às vezes imaginam que tudo se resume a Disco e Boogie, mas na verdade é muito mais que isso. Além do fato de tocarmos muita coisa brasileira no meio, tocamos muitas vertentes eletrônicas, mas sempre com o foco em timbres mais felizes, misturas que trazem matrizes africanas, etc.

É uma festa que não tem a pretensão de ser gigante. A ideia é ser mais intimista e fazer a conexão de gerações – da música e das pessoas. E isso é bem marcante nas Boogies. É muito comum ver faixas etárias que vão dos 20 aos 50 anos, todos juntos na pista, curtindo sem barreiras a mesma atmosfera mágica de respeito, alegria e celebrando a vida.

O FIBO é detalhista e minimalista. E o bicho eleva esses aspectos a muitas potências em diversos pontos. Desde organizar uma festa que começa durante o dia, com uma sessão de almoço com alguma chef nova da cidade, e depois pegar o pôr do Sol. Outro ponto é a organização espacial da pista, pensando em luz mínima etc.

Cara, nossas últimas edições no Eye Patch Panda, com o tema Boogie no Apê foram todas, sem exceção, memoráveis. Mas não dá pra esquecer as edições feitas no Birosca, uma delas com os meninos da Gop Tun e a outra com o super Forró Red Light e Fantastic Man. E teve uma bem louca que foi na QI 29 do Lago Sul, em uma casa que o terreno dava a sensação de estarmos na Chapada dos Veadeiros. Essa teve a Cecília Lindagreen, Camões do Rio e o Augusto Olivani (Trepanado) de SP. Pra resumir, a festa acabou com polícia na porta “pedindo” pra parar com o som. Essa foi a festa.

Em todas as incursões da Boogie também tem um cara que é fundamental; sócio original da festa, o Cleber Machado da Produssa. Ele é o mago que transforma a sensibilidade e perspicácia do FIBO em realidade na produção das instalações e obviamente se diverte com a gente.

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TUNTISTUN: Tem algum DJ da nova geração que você acha que merece a nossa atenção?

Eu pesquiso bastante coisa nova, mas nos últimos cinco anos tenho pesquisado com mais profundidade uma linha de som eletrônico mais xamânica ligada a América Latina e acaba que me vem à mente agora nomes dessa cena, como o Gerra G, El Peche, Cósmic & Damião, Salvador Araguaia, Nirso, etc. Ouvir qualquer um desses é uma aula.

TUNTISTUN: E os Djs históricos do mundo que você já viu? Quem a juventude precisava conhecer?

DJ Harvey é uma aula à parte, fora que o bicho é a própria história, então vale sacar. Greg Wilson é outra lenda que vale sacar e tem outros que viraram grandes produtores, dentre eles um que está com um trampo novo bem vanguardista é o Westbam.

TUNTISTUN: Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?

Invisible Spectrum, Chaos In the CBD


Timeless, Shinichiro Yokota


Darkdeura, Meduna


Start Computer, Shook


Quando o Ilê Passar, Virgínia Rodrigues (Forró Redlight Remix)

TUNTISTUN: O que você acha da energia da pista de Brasília?

Acho que Brasília é provavelmente uma das três cidades do mundo que tem mais gente criativa e original. Na música, acho que é 50 vezes mais que em qualquer outra área. Mas o bicho pega quando falamos em quantidade de público. Logo, cenas substream, que ao meu ver são mais originais, acabam não tendo tanto público. Mas sempre que rola algo bom, que consegue chamar esse público é perfeito. Pessoas que curtem a originalidade e buscam coisas fora do mainstream normalmente são variadas, culturalmente mais abertas e conseguem transformar uma noite em uma magia.

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DJ Oblongui

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