Gustavo FK conta a trajetória de sua carreira de DJ e Produtor.
Gustavo FK é um cara que é DJ, faz música, faz evento, tem label de música eletrônica, e tem uma vasta experiência nessa carreira. Hoje é dia dele contar para gente todas essas cosias.
TUNTISTUN: Tudo bem? é uma alegria imensa fazer essa entrevista com você. Você é um cara que apareceu mais recentemente e que se tivéssemos nos conhecido antes muito mais coisa juntos a gente tinha feito. Me conta um pouco de você, como foi sua infância, nasceu aqui mesmo, como foi esse período inicial?
GUSTAVO FK: Sim brasiliense, filhos de cariocas da gema Sergio e Rosemary.
TUNTISTUN: Sempre foi ligado à música?
Sempre, apesar de ter poucos músicos na família, desde a adolescência, comecei arranhando o violão, dps aos 15 cai pro mundo do punk rock e do hardcore lá no Teatro Garagem que me foi apresentado pelo Claudão(sim ele mesmo) meu primo, comecei a tocar em bandas, conheci a música psicodélica, na sequência veio o famoso psytrance e só então tive a oportunidade de conhecer a house e o techno.
TUNTISTUN: Quando descobriu a música eletrônica?
Despertei pra música eletrônica em meados dos anos 2000, pois antes disso, não me chamava tanto atenção, eu tinha até uma visão preconceituosa, coisa de adolescente roqueiro mimado e anarquista rsrs.
TUNTISTUN: E quando e como decidiu ser DJ?
Logo nas primeiras festas que frequentei eu já sabia que queria fazer aquilo, a música eletrônica mudou tudo no meu caminho e assim foi.
TUNTISTUN: Quais foram as primeiras festas que você olhou para os DJs com atenção?
Eu sempre observei bastante os artistas, sendo Dj ou banda, não me lembro exatamente dos nomes das festas, eram muitas rsrs, o que mais chamava atenção na época eram os grandes festivais como a Trancendence, mas me lembro de uma apresentação que influenciou muito a minha trajetória, a do projeto Influx em 2003, que era encabeçado pelo Fabrício Zorzan na época, um true live PA com percussão, sintetizadores e claro um PC branco gigantesco na cara do maluco.
TUNTISTUN: E sempre buscou a produção musical?
Sim, antes mesmo de me tornar um “dj de verdade” eu já “produzia”, comecei brincando, fazendo barulho, na época era super difícil encontrar outra pessoa que também estivesse produzindo pra trocar informação, não tínhamos tutoriais e nem youtube na época, era uma fase onde as pessoas guardavam os segredos a sete chaves, ninguém trocava conhecimento..credo! Mas sempre curti fazer som, criar minhas próprias batidas etc, é uma pegada completamente diferente de discotecar.
TUNTISTUN: E como foi a decisão de sair do Brasil? Quando foi isso?
Sempre tive essa vontade mas demorou um pouco pra fazer acontecer a “hora certa”, sentia a necessidade de me aprofundar mais, no Brasil a música eletrônica ainda era muito nova e muito pasteurizada, sentia que não tinha muito espaço pro meu propósito na música daquele momento, eu já estava com quase 30 anos de idade, então em 2012 resolvi fechar a escola que tomava boa parte do meu tempo e fui embora.
TUNTISTUN: Ter vivido em uma cidade onde o mercado da música eletrônica é bem estável e morando em uma cidade turística como Barcelona, pode parecer fácil para alguns né? Conta pra gente as dificuldades.
A meu ver, em certos pontos e não só na música, o fato de ser um imigrante já cria uma certa dificuldade, onde a imigração e o turismo massivo já não são vistos com bons olhos. Pode parecer coisa boba, mas a barreira do idioma pode ser uma dificuldade pra alguns, e aqui fica um conselho: aprenda a falar o idioma nativo. A música eletrônica por lá é muito mais difundida que aqui, o mercado é gigante, tem Ibiza a 30 minutos de voo, então você vai encontrar uma cena muito mais sólida e variada, com qualidade e concorrida, não é fácil conquistar espaço, a concorrência é desleal, o fato de se ter uma cidade muito movimentada pode parecer bom, mas na verdade isso gera outros grandes desafios. Poderia citar inúmeras dificuldades, Barcelona é uma cidade que tem uma dinâmica completamente diferente das que conhecemos por aqui, mas é uma cidade incrível e assim como tem suas dificuldades, tem muitas oportunidades que fazem valer a pena o perrengue.
TUNTISTUN: Falando como negócio, a nossa situação política e social atrapalha muito?
Não é de hoje que nosso setor sofre com a situação política, social e econômica..essas barreiras sempre tivemos, claro que em níveis diferentes. Ainda mais a gente que se dedica à uma vertente da música eletrônica mais alternativa por assim dizer. Fica difícil crescer e elevar nosso nicho a um patamar mais seguro com toda essa situação atual.
TUNTISTUN: Como você vê uma cidade como Barcelona que investe no turismo e na economia criativa e vê a gente aqui ralando para fazer festa e música, a gente realmente é maluco?
Hahaha Tive a oportunidade de vivenciar e trabalhar diretamente com o turismo por lá. O turismo de verdade, é um dos fatores que resolve muitos problemas de uma cidade, é ele que faz evoluir a mudança de comportamento e que promove a troca cultural, assim como a parte urbanística que se vê obrigada a evoluir e proporcionar experiências em prol da qualidade de vida, nesse quesito Barcelona é um case. Enquanto lá o underground é “chique”, conceitual e mainstream, aqui é visto como coisa de doidao, tachado de rolê perigoso e outros preconceitos.
Mas acho que apesar de Barcelona ser toda essa maravilha, por lá tem muitas dificuldades que aqui não temos, são desafios diferentes. Por exemplo, lá é muito difícil fazer uma festa e colocar 50 pessoas dentro do evento, o que inviabiliza muito o investimento e o crescimento da festa, aqui esses números são mais palpáveis e fáceis de alcançar, por lá existe a lei do limiter em que “clubs e pubs” são obrigados a instalar nos seus sistemas, nada passa de 80 dcbl, aqui apesar da lei do silêncio, ainda existem locais onde a gente consegue usar um PA. Então não sei se comparar as realidades das cidades seja a melhor opção, mas a gnt é maluco sim, só pode.
TUNTISTUN: Você ajudou a criar várias festas na cidade, mas a TRAxX talvez seja a que mais cresceu?
A TRAxX foi um projeto que a gente criou pra movimentar as noites no Sub Dulcina logo no início. Era um rolê quinzenal e a proposta sempre foi trazer essa pegada fora da curva pra cidade, todos que frequentaram, não só a TRAxX, mas os outros rolês que aconteceram ali, sentiam a sensação de que não estavam em Brasília, a gente escutava pessoas falando que “parecia um rolê em Berlim” ou qualquer coisa do tipo e sempre foi essa a idéia. Eu fico feliz que a galera tenha aderido ao rolê, que tenham carinho pela festa, pois eu, o igor, o Kaká e o Andherson sempre dedicamos muito energia à entrega de um bom evento, recebemos muitos bons feedbacks ao longo dos anos, a festa cresceu e virou parte da história do rolê. No momento, já que não podemos voltar com os eventos, aproveitamos pra desenvolver projetos paralelos ligados a TRAxX como o da nossa nova gravadora, a TRAxX Lab Records.
TUNTISTUN: O que você daria de conselho para quem quer virar produtor, é importante ser DJ? E o contrário, para o DJ é importante ser produtor?
Quando se fala de música eletrônica os dois estão conectados, acredito que a experiência de pista, que se ganha com o tempo, te traz uma visão ampla que pode te ajudar na produção musical, assim como aquele que produz, consegue enxergar de uma outra forma a condução de uma pista de dança. Se você quer produzir, o caminho mais fácil e divertido de começar é discotecando, entendendo a pista, se descobrindo quanto a um estilo, entenda a cultura onde vc está inserido, não se trata apenas de tocar a múscia que mais bomba ou a que tem o drop mais nervoso..mas não tem regra, vai no youtube que tem tutorial de tudo, o que importa é fazer o que gosta, mas se vai produzir, vc vai precisar dedicar muito mais tempo e paciência, esteja preparado hehe.
TUNTISTUN: Tem acompanhado as produções e Djs novos da cidade? Tem alguns pra indicar?
Confesso que nao tenho tido tanto tempo pra escutar os sets e produções dos artistas, mas sei que tem uma galera mandando super bem, como a Camila Jun, Isa49, Fibo, Demetria, Verano, Igor Alb e vários canais movimentando como o da Haus_it e o do CCCP.
TUNTISTUN: O que você espera desse retorno? Um monte de festa pra gente dançar? Será que demora?
Acredito que vá ser gradativo, pelo jeito que as coisas andam, acho que 2021 ainda vai ser um ano devagar, e realmente espero que eu esteja enganado. Mas o lado bom é que tenho certeza que irão surgir vários rolês e novos coletivos, novos artistas, vai rolar um recycle na cena e isso é bom, assim espero.