Mezomo fala sobre a transformação dos espaços por meio da música
O DJ é um dos criadores da Sunset Sessions, responsável por levar dance music a Santa Maria há 9 anos
por Rodrigo Airaf
O desenvolvimento de Mezomo já vai completar 10 anos e motivos para celebrar não faltam. Na esfera artística, o DJ e produtor, que cresceu no município gaúcho de Santa Maria, está na D.Agency desde 2015 e é residente do D-Edge, da Trip to Deep e da Margem.
Suas produções atingiram selos de renome mundial, a exemplo da Get Physical e da MoBlack Records. Sua identidade sonora se dá entre as camadas orgânicas e melódicas do House e, é claro, como um dos criadores da festa Sunset Sessions — cuja criação se confunde com sua carreira musical e cresce em paralelo a ela — Mezomo se encontrou em uma posição de liderança na vida noturna de sua região.
A Sunset Sessions colaborou ativamente para a renovação do cenário de Santa Maria. Há 9 anos a cidade era universitária, sim, era jovem, sim, mas faltava um rolê que abraçasse as sonoridades de dance music que estavam bombando na época.
A festa acabou por se tornar um movimento próprio, elevando e desenvolvendo não somente a abertura do público para tais músicas, mas todo um ecossistema produtivo; de fotógrafos e designers a DJs e promoters, muita gente passou a trabalhar com o que ama e a Sunset (hoje também tem a sigla SNST) ocupou espaços diversos que pudessem conectar natureza, música, pessoas e memórias. Falamos com ele sobre este cargo gratificante de “gestor de vibes”.
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Oi, Mezomo, tudo bem? Criar a Sunset Sessions foi um marco em sua vida, sabemos. Mas ali no início poderia ser, por mais que fosse uma brecha do cenário de Santa Maria, algo arriscado. Você chegou a pensar duas vezes para começar o projeto? Teve apoio de geral?
Mezomo: Após anos tocando apenas em nossos pequenos eventos privados, nada ia nos impedir de criar essa iniciativa. Não tínhamos muita coisa a perder, por isso não pensamos duas vezes em dar o start nesse projeto, que surgiu justamente com uma visão de coletivo, de proporcionar música e experiências boas para os amigos, para a cidade e para toda a juventude. Esse espírito sempre transpareceu, e fez com que o apoio fosse amplo desde sempre.
Para que uma festa vire tradição, ela precisa dialogar com o espírito do tempo e virar um espaço de conexões entre pessoas com interesses em comum. Conte-nos o que há na Sunset Sessions que fez com que ela “grudasse” rapidamente no imaginário do público.
Mezomo: Enquanto o status quo da época envolvia grandes players fazendo eventos para seus clientes, nossa mentalidade era de jovens criando experiências para outros jovens, de amigos para amigos. Foi justamente essa outra abordagem que despertou uma conexão intensa entre a marca e seus seguidores, aliada às experiências bem diferentes apresentadas de maneira inovadora pela SNST em sua região.
Por aqui as festas aconteciam em locais fechados, à noite, com som comercial. Apresentamos os primeiros eventos diurnos, conectados com a natureza, tocando um som mais profundo pela primeira vez, e isso encantou à todos.
Tudo passa por evoluções, períodos e aspectos que elevam um projeto. Vamos imaginar a Sunset Sessions como se fosse uma série; quantas são as temporadas e quais os principais acontecimentos de cada uma delas?
Mezomo: Assim como estamos contando no documentário sobre a história da marca, enxergamos as diversas fases dessa forma: a SNST teve o início lá em 2012, a fase de ‘Nascimento’ e descoberta desse mundo novo. Artistas mais regionais, locais mais intimistas.
Então o projeto começou a ganhar corpo, foi necessário buscar novos lugares, novas atrações e inovações… foi a fase do ‘Crescimento’ e reconhecimento à nivel nacional.
Agents Of Time, Los Suruba, Kolombo, Aquarius Heaven e Emanuel Satie foram alguns protagonistas dessa temporada.
Já com seus cinco ou seis anos de história, a Sunset Sessions já era consolidada e referência da sua cena, mas a evolução continuava, foi a fase do ‘Amadurecimento’. De ser vista como uma das líderes e agir como tal. Novos headliners, novos locais incríveis explorados e novas experiências. Hyenah, Marco Resmann, Guti e Tiger Stripes no Parque Oásis (esse foi só um evento), Finebassen, Oliver Giacomotto, Fur Coat, Sobek, Floyd Lavine, Blondish, Frankey & Sandrino, My Favorite Robot, Bebetta… ufa, faltou vários. Isso tudo numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, imagina.
E agora estamos em um ‘Novo momento’. A pausa forçada da pandemia fez o mundo girar mil vezes, muitas coisas mudaram e juntos estamos mapeando e compreendendo esse novo momento que atravessamos. Renascemos com um evento fantástico em março chamado ‘O Solstício da Nova Era’ com Djuma Soundsystem, e agora estamos em alta rotação novamente.
Sobre criatividade urbana, o que, geralmente, faz sentido para você na hora de escolher um lugar para a Sunset e quais os espaços mais marcantes até então?
Mezomo: Está lá nos pilares estratégicos da marca: Dar novo significado para lugares adormecidos, construindo novas experiências e memórias naquilo que já foi histórico.
A primeira edição da SNST já aconteceu assim, em um lugar bonito, conectado com a natureza, que fazia parte da história da cidade, mas já não era bem visto à muito tempo. A Bombai. Demos outra cara pro local e foi inesquecível.
Em Santa Maria tem esse orfanato construído em 1945 no pé de um morro, chamado Cidade dos Meninos. Passou desativado por anos, em 2015 fizemos a primeira edição de nosso festival por lá, o Som & Sol Festival… e esse novo local ganhou vida novamente e virou nossa casa por muitas edições.
E a cereja do bolo foi quando reativamos o fantástico Parque Oásis, literalmente um parque com Dinossauros, Teleféricos e Brinquedos que vivia no imaginário popular local mas estava fechado há mais de décadas. Fizemos o Oásis reviver novamente para algumas celebrações que estarão pra sempre na memória dos presentes.
É lógico que, como uma referência que a Sunset se tornou, acabou influenciando a cidade. Como você enxerga a cena de Santa Maria hoje, em comparação com o ano de 2012?
Mezomo: Hoje dá pra dizer que existe uma cena, de verdade. Naquela época havia uma ou outra iniciativa solta e aleatória. Os primeiros rolês que frequentei eram com música eletrônica comercial ou então com Psytrance, os gêneros que rolavam por aqui.
Na atualidade temos eventos de música eletrônica de boa qualidade em todo final de semana, clubs trazendo atrações nacionais, festas pequenas, médias e grandes, afters de todos os tipos. Basicamente todos os players atuantes da cena nacional já passaram pela cidade nesses ultimos 10 anos, seja pelas pistas da SNST ou dos outros projetos locais.
Fomentar o conhecimento e a apreciação pela música eletrônica. Essa é a missão da Sunset Sessions desde seu dia 01. Tá lá na bio do facebook ainda. Acredito que estamos executando essa missão!
Deu para perceber que a Sunset é um movimento, um levante artístico, as pessoas trabalham como em um organismo interconectado, ampliando o escopo para vários talentos locais de várias áreas. Conte-nos mais sobre o espírito comunal do evento; como é este escopo de funções e oportunidades atualmente?
Mezomo: Dá pista ao bar, dos bastidores aos conteúdos, dos leds aos promoters, o time de envolvidos é gigante e está sempre em mutação. A característica que conecta todos é a entrega e devoção pela qualidade em todos os pontos de contato, que façam a cena ser cada vez mais valorizada e profissional. Cada projeto é único, mas a essência permanece.
Queremos links! Compartilhe com a gente 5 músicas que podem ser consideradas marcantes na história da SNST.
Mezomo:
Hyenah – You Made Me Who I Am
Tale Of Us – Fresh Water
Frankey & Sandrino – Save
Mezomo – Novo Dia
Hold Your Pants – DJ Glen
Um passarinho nos jogou uma fofoca aqui: Sunset Week. O que podemos esperar desta iniciativa?
Mezomo: Após entregar um super evento de renascimento e retorno, desejamos entregar algo impactante novamente, que fortaleça a tal missão de ‘Fomentar o conhecimento e a apreciação pela música e pela cena’, e assim nasceu a idéia da SNST.Week.
Uma semana de ações, intervenções e celebrações. Tem o Afrocyberdelia, a pista alternativa com sonoridades orgânicas, brasileiras e africanas para abrir em um bar da cidade. Tem a edição especial do SNST.Aurora, transmissão via Twitch de sets dos artistas da marca.
Tem a segunda edição do SNST.Talks, conferência com painéis, debates, workshops e palestras sobre o cenário artístico cultural local e do sul do Brasil, com 4 dias de duração.
E tem o super evento de encerramento, dia 11 de junho, chamado SNST goes Berlin, trazendo a atmosfera da capital alemã para nossa região com a residente do Watergate JAMIIE, os brazucas André Salata e Diogo Accioly além dos grandes talentos locais!
Conduzindo a cena para frente, vamos nessa!
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