Tyrone é mais um multitalento da cidade. DJ, produtor de eventos, designer e muito mais. Hoje ele é o nosso personagem.
TUNTISTUN: Grande Tyrone, tudo bem? É uma alegria fazer essa entrevista com você que é um dos caras da nova geração que faz um baita e diversificado corre, e é mais um talento da cidade. Vamos falar um pouco da sua trajetória, beleza?
Salve Gui, tranquilidade por aqui. Quê isso cara, eu que agradeço pelo convite e pelo reconhecimento! Partiu
TUNTISTUN: Vamos falar um pouco do início de tudo? Conte mais sobre você, onde nasceu e como foi sua infância e adolescência?
Eu nasci debaixo de um sol a pino em gêmeos, em Tagua. Num sábado. Mas eu não lembro de nada disso. Vivi os primeiros anos da minha vida num sobrado na QNG que era na frente do Taguacenter. Tenho muita memória boa de lá, acho que a casa da infância acaba ficando como um lugar meio místico. Lá tinha uma longa escadaria. Foi lá que eu vi o 11 de setembro e a única copa do mundo que o brasil ganhou e eu presenciei.
Tinha um banheiro enorme onde ficava um armário com livros e revistas, o banheiro tinha o dobro do tamanho do meu quarto, era uma disposição engraçada. Depois logo no começo da adolescência mudei pra M-norte, numa casa que tinha 3 roseiras, duas modestas na frente e uma gigante atrás. O Azulejo parecia uma colagem. Quando mudei pra lá passei a estudar num colégio de freira, numa avenida em que parece que ficam todos os estabelecimentos ligados a alguma religião ou mística de taguatinga/ ceilândia. Tem loja maçom, colégio evangélico e católico, terreiro, centro espírita e rosa cruz. Sempre achei isso engraçado.
TUNTISTUN: Você sempre foi um cara ligado em música desde cedo? Qual sua relação com a música na sua juventude?
Muito! Com sei lá 7 anos eu já fiz minha mãe comprar o Bocas ordinárias do CBJR hehe. Ela não me deixava ouvir todas as músicas porque tinha muito palavrão. MInha vó tinha um violão em casa que ela não deixava eu chegar perto e eu ficava namorando até que um dia ela me deu ele e eu comecei a tocar. Tem meu tio o Hélio que já era DJ e ficava tocando bateção de panela no quarto dele junto com o Freeky. E minha mãe que só fazia qualquer coisa com a rádio ligada tocando MPB. Depois na adolescência eu comecei a me interessar por fazer música e nunca mais parei.
TUNTISTUN: Seu som é carregado de influências, e tem muita coisa que é eletrônica, quando e como você descobriu essa música que você traz como sua bagagem?
O primeiro contato foi com meu tio lá em casa. Na época ele tocava DNB e Jungle, eu não entendia muito mas carreguei algumas coisas pra sempre. Por exemplo: Uns anos depois quando eu comecei a ouvir Hip Hop mais a fundo um dia eu ouvi Ready or Not do Fugees, e aí foi um grande choque, porque eu conhecia o refrão mas achava que era uma música do DJ Zync. Outro foi jogando Fifa Street que tem Original Nuttah na trilha sonora, quando ouvi adolescente despertou todo tipo de memória afetiva da infância. Depois disso o próximo contato foi com o Funk na adolescência que acabou por abrir uma porta pro Eletro.
Eu comecei a me interessar com mais força e pesquisar lá pelo final da adolescência, principalmente a partir do Bass – Dubstep, trap e Grime. Depois eu comecei a tocar e produzir Funk e fazer todo tipo de Link com outras cenas de música eletrônica no mundo, e aí começou essa jornada do jeito que ela se configura hoje.
TUNTISTUN: Quais foram suas primeiras festas e Djs que te abriram os olhos?
Pô, lembro de um dia bem no comecinho daquela bolha trap ver o Torch tocando em algum canto. Não lembro qual era a festa. Ele tava tocando um som muito puxado e que tinha umas influências bem marcas de Dub. Fiquei meio boquiaberto. Aí inegavelmente o Confronto sempre foi a festa que mais me abriu horizontes assim. Além disso rolaram umas edições de uma festa que chamava SubGrave, também pirava muito.
TUNTISTUN: E logo que você gostou da música decidiu ser Dj? Como foi esse caminho?
O caminho foi tortuoso. Até hoje não sei como vim parar aqui. Aqueles kkk. Eu comecei a produzir antes de tudo beats de rap, eu queria ser o Kanye, essa é a verdade. Depois disso entrei na Banda Recalque e produzia canções de Brega e era o DJ Bota1Som. Quando vi tavam me chamando pra tocar. Fui apresentando o som que eu gostava e foi dando certo. Em maio de 2016 uns malucos resolveram fazer uma festa chamada Cei My Name – na casa do cantador ali na ceilândia. Eu apareci na dm deles informado que eu ia tocar hehe. Foi daí que eu conheci o Danton (do Projeto Morro) e o André Kelevra ( da Cei My Name) que junto com a Athena Ilse começaram a botar fé no som e me dar um espaço. Depois disso eu percebi que não tinha jeito – eu era DJ mesmo. Daí resolvi fazer uma festa kkk.
TUNTISTUN: Você comanda uma das festas mais icônicas que existiram no Sub Dulcina, conta um pouco a história da sua festa, a Furacão 3000, quem faz e festa, o que rola lá e quais lembranças mais loucas que você tem pra contar?
A Furacão 3000 é meu o meu bebê. O André Kelevra já tava me enchendo pra fazer uma festa tinha um tempo, mas a gente só pensava em nome ruim kkk. A real é que eu já tinha esse nome como um conceito, mas eu sentia ciúmes. Era uma festa afrofuturista. O Funk tava num ápice de um som meio futurista, eletrônico com uns sons de laser e motoserra kk. Aí, sugeri esse nome que eu tinha guarado. A gente fez a primeira edição no Falecido O’Beco Underground em maio de 2017. A seguinte já foi no Sub-Dulcina. Nessa época a gente já tava tocando Funk 150 bpm, ninguém entendia nada. Até que um dia entenderam. Depois o André saiu e entraram Júlia Ayla e Prego Tuerto como produtores e todo um time de gente que ajudou a gente a fazer aquilo ali acontecer.
A Furacão é um espaço louco porque é imprevisível, todo mundo toca o que quiser e o que tiver de mais avançado. As vezes é meio chocante, já rolaram edições de só ter um set de Funk e o resto ser tudo trance, jungle, Hard Drum, sabe deus o quê mais. Mas o público se amarra e eu fico feliz. De lembranças loucas prefiro me resguardar. Mas teve o dia que contratamos um som tão ignorante que o Lethal da boombox audio system olhou pra minha cara e falou: ” Você tem noção que não tem a menor necessidade isso aqui né?”. Nesse dia a gente não conseguia ouvir nossos próprios pensamentos. Lá em cima na Faculdade o som ainda estava alto – demais. A gente teve que montar o praticável quase 2 metros atrás das caixas de som e ainda assim o notebook ficava deslizando em cima. Todo mundo queria tocar as músicas mais sinistras por causa do som mais sinistro. Nesse dia eu fui feliz.
TUNTISTUN: Diz para gente 5 músicas que te marcaram no início da sua descoberta na música eletrônica?
TUNTISTUN: Diz pra gente quais dificuldades você acha que temos na cidade e o que você sonha de legal acontecendo?
A maior dificuldade é sair do plano né. Geral que cola comigo tem esse projeto e sonho de fazer o rolê acontecer com mais força nas satélites, mas é barrado por toodo tipo de má vontade. Da buroracria que parece que se agiganta, da falta de transporte público, que impede a população de participar, e pra mim o pior de tudo da repressão policial mesmo. Os rolês mais doidos que já fui na vida rolavam no mercado sul a plena luz do dia. Galera dançando, várias atividades culturais, comércio acontecendo, tudo muito lindo. Tudo em paz até a chegada da ordem, rs. Primeiro foi com o bloco de carnaval da Batekoo. Acabaram a festa horas mais cedo e revistaram TODOS os presentes. Só saía mediante revista e Dj e produção tomando esculacho. No FDS seguinte fizeram a mesma coisa no Projeto Morro, só que aí quase levaram o Danton preso dentre diversos outros excessos. Pra gente que trampa com isso e precisa trabalhar sério isso dificulta muito. O sonho é justamente poder fazer rolê no lugar onde eu nasci.
TUNTISTUN: Tem algum(a) Djs da nova geração que você acha que merece a nossa atenção?
O Ori tá tipo o rei midas do som, todo set que toca vira ouro.
Daí tem a Ayla que tem a pesquisa mais apavorante de uns sons frenéticos tipo Tarraxo e Gqom. É só chinelada.
A Saskiavibes também manda muito, faz umas misturas de geleia geral que são perfeitas
Além disso tem Teenangel, JLZ e Klap que são os melhores produtores do Brasil e Região. E o J Wellz que tá me surpreendendo muito em tudo que faz.
TUNTISTUN: E o que você curte além de música, tem mais algum assunto que te apaixona?
Nossa, muitos. Eu sou bem elétrico e bem interessado. Vira e mexe eu arrumo um assunto novo pra me apaixonar. Mas a paixão que sempre andou lado a lado com Música pra mim foi o Desenho, que também me acompanha desde mulequinho.
TUNTISTUN: Pode indicar 5 músicas mais recentes que você tem curtido?
TUNTISTUN: O que você gosta de transmitir no seu som?
Acho que depende muito da ocasião. Gosto de ver gente feliz dançando, e ao mesmo tempo gosto de ver gente que tá tendo que digerir um pouco uma coisa nova. Acho a música uma linguagem muito doida e fazer um set é tipo fazer uma colagem né? No sentido de que dá pra expressar umas coisas muito complexas se você respeitar as limitações desse formato e ao mesmo tempo você tem que se permitir se surpreender um pouco com o que tá acontecendo. Às vezes eu gosto de fazer argumentos com sets, por exemplo tenho esse set que é um jeito de demonstrar que funk e jungle são bem parecidos. E aí ele vai passeando por esses dois gêneros concatenando ideias , desde jeitos específicos de cortar percussões até ideias melódicas parecidas. Na Furacão costumo muito fazer um set que mostra como a música eletrônica no mundo todo é um pouco influenciada por funk ( e vice versa), e aí vou mostrando sonoridades similares e experimentos. As vezes eu só quero entrar e tocar hitzada pra todo mundo me amar e me dar drinks. Será que eu ainda vou aceitar drinks alheios de boa depois que essa pandemia acabar? Isso só o tempo vai dizer.